sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mulher Bunda Mole..rs

Belinha acordou às seis, arrumou as crianças,
levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur,
o marido, e de trocarem cheques,
afazeres e reclamações.
Fez um supermercado rápido,
brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda,
saiu como sempre apressada,
levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido
e uma advertência por estacionar em lugar proibido,
enquanto ia, por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.
No caminho do trabalho batucava ansiedade no volante,
num congestionamento monstro,
e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo
antes que se transformasse numa mulher grisalha.
Chegando ao escritório,
foi quase atropelada por uma gata escultural que,
segundo soube, era a nova contratada da empresa para o cargo que ela,
Belinha, fez de tudo para pegar,
mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência e dedicação,
não conseguiu.
Pensou se abdomem definido contaria ponto,
mas logo esqueceu a gata,
porque no meio de uma reunião ligaram do colégio de Clarinha, sua filha mais nova,
dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.
Tentou em vão achar o marido e,
como não conseguiu, resolveu ela mesma ir até o colégio,
depois do encontro com o novo cliente,
que se revelou um chato, neurótico, desconfiado
e com quem teria que lidar nos próximos meses.
Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado.
Pensou em tudo que ainda ia ter que fazer
antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor.
Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.
Quando chegou em casa,
descobriu que tinha deixado a pasta com o relatório
que precisava ler para o dia seguinte no escritório!
Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os papéis na empresa, mas continuava fora de área.
Conseguiu, depois de vários telefonemas, que um motoboy lhe trouxesse os documentos.
Tomou um banho,
deu o jantar para as crianças,
fez a os deveres com a crianças e os colocou para dormir.
Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo, reclamando de tudo.
Jantaram em silêncio.
Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de sono.
Artur a acordou com vontade de transar.
Como aqueles momentos estavam cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer um último esforço e transar.
Deram uma meio rápida, e,
quando estava quase pegando no sono de novo,
sentiu uma apalpadinha no seu traseiro com o seguinte comentário:
- Tá ficando com a bundinha mole, Belinha...
deixa de preguiça e começa a se cuidar..
Belinha olhou para o abajur de metal
e se imaginou martelando a cabeça de Artur
até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro!
Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas!
Com um alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes
depois deu-lhe um chute tão brutal no saco,
que voou espermatozóide para todos os lados!
Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda:
como controlar as emoções negativas.
Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou.
Não ia valer a pena, não estamos nos EUA,
não conseguiria uma advogada feminista caríssima
que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido
cega de tensão pré-menstrual...
Resolveu agir com sabedoria.
No dia seguinte, não levou as crianças ao colégio,
não fez um supermercado rápido,
nem brigou com a empregada.
Foi para uma academia e malhou duas horas.
De lá foi para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju
e as unhas de vermelho.
Ligou para o cliente novo insuportável e disse tudo que achava dele,
da mulher dele e do projeto dele.
E aguardou os resultados da sua péssima conduta,
fazendo uma massagem estética que jura eliminar,
em dez sessões, a gordura localizada.
Enquanto se hospedava num spa,
ouviu o marido desesperado tentar localiza-lá pelo celular
e descobrir por que ela havia sumido.
Pacientemente não atendeu.
E, como vingança é um prato que se come frio,
mandou um recado lacônico para a caixa postal dele.
- A bunda ainda está mole.
Só volto quando estiver dura.
Um beijo da preguiçosa...
(Extraído do livro: Este sexo é feminino /Patrícia Travassos).

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